Pequena história de amor
Recebi, na caixa de correio, um daqueles caderninhos simpáticos que em cada folha destacável oferecem promoções de hambúrgueres . Nunca os usei, até ao último sábado, dia de sol e fantasia.
Pechincheiro de corpo e alma, comprei umas All-Star falsas por 10 euros e dirigi-me a uma multi-nacional de comida americana na Praça da Liberdade... Uma especialidade.
Enquanto esfregava as beiças em alface e maionese observei um casal de velhinhos que se sentou mesmo à minha frente.
O senhor desembrulhou o hambúrguer e cuidadosamente partiu-o em duas metades. Pousou uma delas em frente à velhinha.
Tirou todas as batatas do pacote de cartão e dividiu-as em dois montinhos idênticos e entregou um deles à senhora.
Bebeu um pouco da bebida e entregou-a à mulher que, de vez em quando ia bebendo pequenas porções alternando com o marido.
À medida que o senhor começava lentamente a comer a sua metade do hambúrguer , notei que todos os clientes observavam este casal. Era fácil perceber que as pessoas se comoviam com os pobres senhores que não deviam ter dinheiro para uma refeição.
Quando o velhinho começou a comer a sua porção de batatas levantei-me e o mais discretamente possível ofereci-me para lhes pagar outro menu. O senhor disse que estavam bem assim e que desde sempre partilharam tudo entre eles.
A senhora não tocou nem no seu meio hambúrguer nem nas batatas, apenas dava uns pequenos goles na bebida e observava o marido a comer. Uma vez mais aproximei-me deles e insisti pagar-lhes pelo menos outro hambúrguer, ao que o senhor respondeu outra vez que agradecia muito mas que estavam habituados a partilhar tudo.
O velho senhor acabou de comer toda a sua metade e limpou-se delicadamente com um guardanapo. Intrigado aproximei-me uma última vez e dirigi-me à velhinha que não tinha tocado na comida.
- Partilham tudo mas a senhora não comeu nada! Está à espera de quê?
- Dos meus dentes