Tristeza de quatro patas
Em cima, um cão útil e digno. Em baixo, Figo. Um parasita abandonado, inútil e sem missão na sociedade. |
Não quero dizer que não se usem cães para guiar pessoas cegas. Não sei se algum invisual está a ler isto e se estiver não quero que se sinta mal com o que vou dizer. Imagino que as histórias que têm com o companheiro cão e exemplos de amor e amizade serão suficientes para me contrariar. Mas impressiono-me sempre que vejo um cego com o seu cão. Até à data não vi nenhum bicho que não parecesse ter sobre si toneladas de tristeza, desde a expressão do olhar aos movimentos, são das criaturas mais tristes que alguma vez vi.
Dizem que os cães são felizes a fazer aquilo para que foram treinados. Que para eles é como se estivessem a brincar seguindo aquelas regras, o que é fácil entender quando vemos os cães de caça, os pastores, ou os que procuram pessoas em escombros; mas se os cães-guia gostam da sua condição, então disfarçam bem.
Nunca os vi sem ser em trabalho, serão eles, em casa, mais sorridentes? Ou fazem aquele número apenas em público para dar mais dramatismo à situação? Em casa têm alguma luz de noite para encontrarem a água ou a comida? Têm algum brinquedo para roer? Ou a existência deles resume-se ao que vemos?
Isto deve ser deformação minha que tenho um rafeiro inútil que passa o tempo aos saltos e a correr. Acabou de saír daqui disparado para a cozinha não se sabe porquê.