Sento-me numa mesinha do Fernando dos Leitões, no cruzamento da R. de Cedofeita com Álvares Cabral. Ou será Sacadura Cabral? Acho que se juntam ali as três com a Figueirôa.
Na TV do estabelecimento, enquanto espero pelo meu naco de leitão à Bairrada passam as notícias da TVI. Alerta laranja para cá e para lá e imagens de tempestades. Deve ser num país qualquer distante, no Porto estão 17 graus, um sol branquíssimo e uma brisa que me permitiu ir a pé de casa sem ficar a suar em bica.
A menina traz-me um pratinho de salada e um recipientezinho com o molho de pimenta que irá ser absorvido pela carne fibrosa do animal. Desta vez pedi "carninha" em vez de costelinhas.
A expressão "Alerta laranja" mantém-se na TV e olhando pela montra, semicerrando os meus olhos sensíveis à claridade observo um autocarro turístico com o piso de cima cheio de pessoas armadas de bonés e máquinas fotográficas. Temos sorte com o nosso clima... está um dia perfeito de Março e o leitãozinho já olha para mim ao fundo do balcão.
Saladinha, molhinho, batata frita de pacote, um pão da Mealhada e uma Coca-Cola light que é o mais parecido com espumante tinto e é mais adequado ao espírito deste dia de Primavera.
Alerta laranja e um porquinho de corpo dourado, qual Rita Salema, o seu lombo assado é mais que um poema. É a coisa mais linda... que eu vi passar. Este não era para mim, mas já espreita ali outro prato e aquele sim é meu.
Ao ser pousado à minha frente fez-se luz, ainda mais do que a que entrava pela montra. O pedaço de carne e pele estaladiça vinha acompanhado com meia rodela de laranja. Não aprecio porque tem um sabor muito intenso, mas não valia a pena tanta atenção por parte da TVI. Encostei a rodela, rasguei o pão ao meio e brindei mentalmente à Primavera molhando-o no molho escuro.