Electro-fobia
Chegou o tempo dos choques. Tenho tendência para apanhar choques em todo o lado quando o tempo está seco. Houve um ano que eram seguidos não só nas portas dos carros como até em madeira. Juro que aconteceu, não sei como mas aconteceu.
O meu trauma é tanto que não consigo tocar numa porta de um carro sem ser na parte de plástico ou com a ponta da manga a proteger-me a mão.
Talvez esta fobia tenha nascido quando, há muito tempo, as instalações onde trabalhei tinham os gabinetes divididos por separadores de alumínio que davam choque sempre que lhes tocávamos. A única forma de contrariar isto era andando descalço o que nos deu fama de jovens excêntricos que faziam sites e andavam sempre descalços. Tom Sawyer.
Mas os culpados eram os choques, e nós já estávamos tão habituados que não nos lembrávamos de nos calçar para receber as visitas.
A pessoa que mais sofria não se descalçava e aguentava estoicamente: enquanto que nós íamos direitinhos pelos corredores sem tocar em nada que pudesse dar faísca, o Paulo era invisual e tinha mesmo que usar as mãos para encontrar o caminho até à casa de banho ou tirar um café. Era um ai Jesus o tempo todo.
Pronto, voltou o tempo dos choques.